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Concurseiros podem aprender com fracassos

A maior parte dos candidatos aos cargos públicos mais disputados do País coleciona tropeços nos concursos antes de conseguir a desejada aprovação

 A maior parte dos candidatos aos cargos públicos mais disputados do País coleciona tropeços nos concursos antes de conseguir a desejada aprovação. Mesmo sem os resultados esperados, essas seleções intermediárias levam aos concurseiros aprendizados importantes, segundo profissionais da área.

“Experiência é fundamental. Casos de pessoas que passam de primeira são mais raros, porque há muitos elementos que não estão nos livros, como administração do tempo, conhecimento do edital e controle emocional”, diz o professor Eduardo Sabbag, da rede de cursos preparatórios LFG.

Para pegar o ‘jeitão’ de uma prova de cem perguntas objetivas, por exemplo, ele acredita que o candidato deva ter respondido pelo menos 2 mil testes, entre simulados e concursos, durante o processo de estudo. A medida teria eficiência, segundo ele, porque grande parte das questões se assemelha em diferentes processos seletivos, embora o foco possa variar de acordo com o avaliador. Conhecer a orientação das bancas, aliás, está entre as principais recomendações para os postulantes.

O concurseiro Fábio Evangelista, de 28 anos, tem uma longa história para contar desde que passou a participar de seleções para o cargo de magistrado estadual, há cinco anos. “Já fiz mais de dez provas”, diz o jovem, que está neste domingo em Fortaleza para prestar concurso. “Nos sentimos numa fila. São sempre as mesmas pessoas tentando o concurso. É como se tivéssemos que esperar alguns passarem para chegar a nossa vez.”

Persistente. Fábio tenta há cinco anos passar em concurso para a magistratura (Imagem: Felipe Rau/Estadão)

Evangelista diz ter amadurecido com os testes que realizou no período, embora não se considere totalmente pronto. “Muitos assuntos são comuns a todos os concursos, mas cada lugar tem a prova de um jeito. Na fase oral do concurso, por exemplo, você também tem de conhecer quem é o examinador. Essa é uma dificuldade grande”, diz.

Vice-presidente acadêmico do Damásio Educacional, Marco Antônio Araújo Júnior diz que viver a tensão dos concursos ajuda, porque a experiência real auxilia o candidato a controlar os nervos – muitas vezes, abalados pela pressão de tempo nas seleções. “Há muita gente muito bem preparada, que tem muito conteúdo, mas que trava na prova”, diz. Nesse sentido, fazer o teste sem grandes pretensões de aprovação pode ser um caminho, segundo ele, para que os postulantes fiquem atentos aos seus pontos fracos.

Edgar Abreu, sócio-fundador da Casa do Concurseiro, também acredita que os concursos intermediários possam ser bons pontos de balanço para os candidatos e pede que as autoavaliações sejam feitas em três esferas principais: a preparação para a prova, os testes e os resultados.

“Antes do concurso, a pessoa tem de ter claros que temas do edital ela estudou muito e a quais ele se dedicou pouco. No momento da prova, ela tem de avaliar se chegou no horário previsto sem problemas, se estava ansiosa, se foi boa a estratégia de estudo ou de descanso do dia anterior, se faltou tempo para resolver algumas questões, se havia maneiras de controlar o horário durante o teste e até se ela precisou tomar água ou ir ao banheiro. Depois, ela tem de ver como foram os resultados em relação ao esperado.”

Feitos esses questionamentos, é preciso estabelecer metas para os processos seletivos seguintes, segundo Abreu. Ele pede, no entanto, que os candidatos não se atenham apenas aos porcentuais de acerto. “Se o candidato quer acertar 90%, mas conseguiu 80% e evoluiu, não há problemas. O importante é a evolução acontecer.”

Não se frustrar diante dos percalços é a recomendação do diretor de recursos humanos da Central de Concursos, José Luis Romero Baubeta. Na opinião dele, os concursos devem fazer parte de projetos de vida no médio e no longo prazo. “O que vier antes é lucro”, diz.

Experiência. Leandro acredita que ansiedade de um teste ajudará em prova seguinte (Imagem: Felipe Rau/Estadão)

O bacharel em direito Leandro Moreti, de 26 anos, parece ter essa filosofia. Com o sonho de se tornar delegado de polícia, ele presta concursos para os cargos de investigador e de escrivão em São Paulo – o jovem está atualmente na segunda fase dos processos seletivos.

Neste domingo, Moreti prestará a prova de escrivão, experiência que, acredita, servirá de respaldo para a segunda etapa do outro concurso, ainda sem data marcada. “Vou ficar mais ansioso agora. E, na prova de investigador, mais tranquilo.”