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A revolução do feedback

Mais do que preparar as pessoas parar dar o feedback, é importante estar pronto para recebê-lo

As pessoas não querem feedback. No maior evento de treinamento e desenvolvimento do mundo, o ATD 2019, eu participei de uma conferência que trazia dados de uma pesquisa que dizia que as pessoas moldam os seus relacionamentos a fim de evitar o feedback, porque conscientemente, ou inconscientemente, encaram o feedback como uma ameaça.

O que acontece com você quando escuta: “preciso te dar um feedback”?

Nesse momento as bochechas ficam coradas, as mãos começam a suar e o coração acelerar. A amígdala é “sequestrada” e uma descarga de cortisol é liberada na corrente sanguínea: quem está no comando é o sistema límbico (emoções), e não o córtex pré-frontal (razão).

Em uma outra conferência, desse mesmo evento, que reúne as melhores cabeças da área de desenvolvimento humano do mundo, um neurocientista apresentou pesquisas que respaldam as ideias de que um feedback injusto gera uma dor tão intensa que pode ser comparado a uma série de dores físicas. Ou seja, feedback considerado “injusto” dói.

Mas o que é um feedback injusto?

Cada pessoa enxerga o mundo de uma forma diferente. Com base em nossas experiências, consolidamos crenças que "colam" na mente, nos condicionando a sentir e reagir aos estímulos do mundo. A grande questão é: podemos ter uma crença? E o que é justiça? O que é certo ou errado?

Para que possamos enviar e receber feedbacks positivos, precisamos diminuir os possíveis sentimentos de injustiças, vale a pena seguir essas três recomendações:

  1. Questionar as nossas crenças, nosso modelo mental e a forma como julgamos o mundo;
  2. Diminuir nossos julgamentos pois são condicionados para que ninguém perceba que, às vezes, não condizem com a realidade, mas que são realidade e verdade apenas para nós;
  3. Exercitar a empatia: entendendo que somos mais empáticos com os “nossos”, ou seja, com pessoas da nossa “mesma equipe”, “mesma religião”. (Existem pesquisas quanto a isso também).

Além disso, nas organizações, estamos sempre preocupados com a forma de entregar o feedback. Mas a revolução de feedback de qual falamos é que precisamos mudar o foco de quem entrega o feedback para quem o recebe. Estamos sendo convidados para o despertar de uma nova consciência. Para isso, precisamos fazer uso daquilo que é o nosso maior aliado: os relacionamentos humanos.

Se eu quero expandir a minha consciência, preciso buscar calibrar a minha autopercepção (como me vejo) com a heteropercepção (como os outros me veem). Se buscarmos diferentes fontes de feedback sobre conhecimentos, habilidades e comportamentos, poderemos aumentar a objetividade com a qual encaramos a nós mesmos.

Por isso, convido vocês a buscarem feedbacks de diferentes fontes, perguntando: o que faço bem? Quais são minhas principais características profissionais? Para quais atividades ou temas você pode confiar a mim? E o que preciso fazer de diferente para melhorar?

Não espere receber feedback pois a verdade é que você não gosta e todo o seu sistema se arma para recebê-lo. Pelo contrário, busque feedbacks e crie condições para um espaço de abertura interna e assim ouvir o que está sendo falado. Se ouvir algo que te desagrada, não revide. Escute tudo e diga: “Vou refletir sobre isso”. Se alguém te disser algo e você não gostar, acredite; Aí reside uma grande oportunidade de desenvolvimento, porque quando temos certeza de quem somos, não nos incomodamos com o que os outros falam sobre nós. Quando rejeitamos partes de nós mesmos ou não queremos encará-las, fica mais fácil reagir, desqualificar e se ressentir. Por isso a revolução do feedback começa em quem recebe, e não em quem entrega. O "que" e "como" recebemos o feedback, diz mais sobre quem entrega, do que sobre você. Mas a forma como você reage quando recebe o feedback, isso sim diz muito sobre você, e sobre o que precisa desenvolver para alcançar plenitude pessoal e profissional.