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A pandemia da covid-19 e o fim da globalização

Esse movimento de ‘desglobalização’, em vez de aproximar as nações ricas das pobres, resultará em aumento na desigualdade entre elas, dificultando a recuperação da economia mundial

Em seu último número, a revista The Economist publicou um artigo que questiona se o surto do novo coronavírus poderia significar que o processo de globalização, iniciado nas últimas quatro décadas, teria recebido um golpe mortal.

O artigo lembra, porém, que esse processo estaria sofrendo reversão desde a crise financeira de 2008 e após a eleição de Donald Trump, resultando em estagnação do comércio internacional e dos investimentos estrangeiros, culminando, nos últimos tempos, com a guerra comercial entre Estados Unidos e China.

Desde janeiro do presente ano, com a queda brutal tanto da produção mundial, que se descobriu demasiada dependente das importações da China, como da demanda, afetada negativamente pela queda da renda e pelo aumento generalizado do desemprego, os fluxos comerciais e financeiros apresentaram expressiva retração, mesmo com as políticas compensatórias dos bancos centrais e dos governos dos países desenvolvidos, implementadas de forma tempestiva.

Esses efeitos disruptivos poderiam seguir exercendo ação “desglobalizadora”, mesmo após a superação da pandemia, pois, provavelmente, haverá contração expressiva nas viagens internacionais, por precaução, e mudança de hábitos, além da tendência de concentrar a produção e suas cadeias de suprimentos nos mercados nacionais.

Vale lembrar, porém, que, embora a globalização não tenha beneficiado a todos os agentes envolvidos, foi responsável pela notável geração de riqueza, aliada à expressiva redução da pobreza da grande maioria dos países durante as últimas décadas. Isso ocorreu pelo barateamento da produção, pelos ganhos de escala associados à expansão dos mercados e pelos benefícios trazidos pelo maior fluxo de capitais financeiros sobre a produção e inovação.

Esse movimento de “desglobalização”, ao contrário do que muitos pensam, em vez de aproximar as nações ricas das pobres, acarretará um importante aumento na desigualdade entre elas, dificultando ainda mais uma recuperação robusta da economia mundial, no período pós-pandemia.